por Maria Luiza Meneses

 

 

[Apresentação]

Um pequeno cubo de madeira roxa sobre um fino pedestal de aço preto se destaca com sutileza na mesa de canto da sala. Ao lado, uma pequena bandeja levemente curvada nas laterais apresenta uma rica variedade de madeiras combinadas: marrons claros, médios e escuros, atravessados por uma fina parte de madeira chamada Roxinho. Do chão ergue-se um grande e sinuoso cogumelo de madeira acompanhado por outros dois menores. Ao manusear o cubo, facilmente descobre-se um dichavador, revelando uma peça com dupla função: útil e estética, que após o uso se integra com beleza e elegância ao ambiente. O mesmo acontece com o cogumelo, um cinzeiro de chão.

 

Esta é a cena de uma casa com algumas peças criadas por Fernando na oficina de marcenaria Weedewood. Para ele, a pesquisa de madeiras é acompanhada pelo cuidado ético sobre a origem dos materiais, a preocupação estética e sensorial com a peça final, para a criação de um design belo, consciente e acessível.

 

[Origens]

Criada em 2021, o surgimento da Weedewood acompanha uma demanda mundial crescente pela desaceleração, tempo de qualidade e reconexão com a natureza, que faz ressurgir o conceito de design orgânico e retoma a valorização do trabalho feito à mão.  Desenvolvido por Frank Lloyd Wright no início do século XX, com influência do movimento Arts & Crafts - que inspirou outros movimentos como Art Nouveau e Art Déco -, o design orgânico faz uso de linhas curvas para criação de objetos ergonômicos, fluidos e inspirados na natureza.

 

[Princípios e valores]

Em sentido oposto à padronização de objetos, produção acelerada, massificação de identidades, objetos descartáveis e ausência do artesão, a Weedewood é o laboratório onde Fernando experimenta a criação de peças únicas, carregadas de personalidade, duráveis, úteis para o cotidiano e sensíveis para contemplação. O zelo com cada peça beira o perfeccionismo. Autodidata em marcenaria e serralheria, Fernando trabalhou por anos na área industrial, onde aprendeu com os profissionais mais velhos o lema que guia a sua produção: “faça bem feito ou faça de novo”. Ao iniciar um novo ofício, a escolha pelas artes manuais tem relação com o movimento punk hardcore e o pensamento de contracultura presentes na sua vida desde cedo, ambos avessos aos modelos de produção e consumo vigentes.

 

[Pesquisa, processo criativo e confecção]

Tudo começa com a pesquisa e coleta da madeira. Em geral, Fernando utiliza madeiras de demolição, materiais com duplo valor agregado: tanto por se tratar de madeiras de alta qualidade, quanto por um dia terem sido casas, galpões, armazéns, lugares com história e vida. A peça bruta sugere o caminho a ser seguido pelo artesão, que respeita as curvas, os veios, texturas, manchas, furos e desenhos da madeira. Nesse sentido, o artista encontra soluções que respeitam o material. O cuidado em simular o movimento serpenteante de uma medusa que dá corpo a um cinzeiro de mesa, ou as fissuras de um cogumelo, vem da observação da natureza, que é onde o artesão encontra suas referências.

 

Desta forma, a Weedewood produz peças com história, que integram o interior dos ambientes com o organicismo da natureza, o que proporciona sensação de bem-estar e conexão.

 

 

Sobre Fernando

Me chamo Fernando, marceneiro e designer das peças da Weedewood.

 Iniciei minha carreira profissional na área de manutenção industrial onde muito cedo tive contato com o ambiente de oficina e o manuseio de ferramentas, conhecendo materiais e processos de produção na área têxtil, impressão gráfica e processos de soldagem. Autodidata, encontrei na marcenaria a melhor forma de expressar suas ideias. No meu trabalho busco valorizar as habilidades manuais, trabalho criativo, melhor aproveitamento da matéria prima.